Como sabem, comecei a escrever sobre navegação TT para a revista Overland Portugal, neste blog irei colocar alguns desses artigos para poderem ler, se querem saber tudo e ler todos os artigos não deixem de comprar a revista, espero que gostem!!!
Qual a importância da navegação em todo o terreno? O que usar?
Costumamos dizer muitas vezes que o destino não é tão importante quanto o caminho que percorremos até la chegar, a navegação, para mim, é também esse caminho. É o planeamento do que vamos ver, e fazer, ou ate pode ser um simples fio condutor para partir à descoberta nos nossos 4x4.
Fechar o conceito de navegação em todo o terreno aos tracks, rotas, ou o que lhes queiramos chamar, é, na minha opinião, limitativo, uma vez que podemos fazer navegação com um simples mapa de papel, ou podemos ter o equipamento mais moderno do mercado e seguir a rota ou podemos mesmo fazer uma navegação apenas por orientação.
Mas vamos à essência e ao início daquela vontade que todos temos de ir com os nossos 4x4, queremos passear, queremos ver aquela paisagem, aquele sítio fantástico ou aquela ruína perdida no meio da natureza. A pergunta que muitas vezes se impõe é, como? E é aqui que a Navegação tem o seu lugar.
Do meu ponto de vista a primeira parte da viagem que iremos fazer será a procura e planeamento da mesma, em que iremos pesquisar onde parar, o que ver, onde dormir, que caminho fazer, etc. Um mapa, seja ele qual for, é uma tela em branco onde iremos fazer o nosso plano da viagem, daquela semana ou dia, é onde iremos explorar mentalmente e delinear o que iremos fazer, como, quando, e em que moldes.
Para muitos este planeamento da navegação continua a ser algo muito complicado e até, aparentemente, inacessível. Assistimos a uma procura desenfreada das coordenadas daquele sítio, daquele track das fotos que apareceram numa rede social, algo que não tem mal nenhum, todos nós já o fizemos, mas, criar uma viagem do nada tem um gosto próprio de aventura inexplicável. É preciso algum conhecimento, e muitas horas de pesquisa, sim, sem dúvida! Mas ficamos com um grande conhecimento do que vamos ver e de resolver alguma situação inesperada que nos apareça pelo caminho.
Não existe um “manual” de como navegar, nem deve existir, cada um o faz à sua maneira, dentro dos seus conhecimentos e experiências. Isto, por si só, torna a navegação extremamente inclusiva e propicia a partilha em várias formas.
Existem varias formas de nos orientarmos e navegarmos nos trilhos, podemos utilizar desde uma simples bússola aos modernos aparelhos de GPS dedicados para o efeito, ou até mesmo o telemóvel que temos no bolso.
Existem varias formas de nos orientarmos e navegarmos nos trilhos, podemos utilizar desde uma simples bússola aos modernos aparelhos de GPS dedicados para o efeito, ou até mesmo o telemóvel que temos no bolso.
Nos grupos em que me encontro vejo muitas vezes perguntarem qual o melhor método de navegação? Para responder a esta pergunta temos de refletir quais são os nossos objetivos, qual é o nosso tipo de todo o terreno, se é para os fins de semana à volta de casa, se é para aquela viagem internacional, se damos um uso intensivo ou se será “só” para de vez em quando. Também temos de perguntar a nós próprios como queremos fazer a viagem? Queremos seguir uns track´s? Ou pretendemos partir à descoberta sem caminho definido, sabendo que temos X tempo e um local onde queremos chegar. Todas estas perguntas são questões que temos de fazer a nós próprios e que vão influenciar o que mais se adequa ao uso que pretendemos ter.
Tendo isto em mente, vamos falar um pouco das soluções que temos e um pouco da sua historia e de onde vieram, desde o mais básico ao mais completo. O mais simples, e talvez pela simplicidade de andar pelo desconhecido um tanto ou quanto “às cegas”, é o menos usado, e por ventura o mais complicado para quem não tem grande experiência. Estou a referir-me ao uso da bússola e do mapa de papel. Estes instrumentos requerem algum conhecimento, sobretudo de leitura de mapas e boa orientação, mas com um bom mapa e bússola conseguimos, em qualquer parte do mundo saber onde estamos e como trilhar o caminho.
Quando falamos em mapas de papel a nossa mente leva-nos logo a pensar nos mapas da cartografia militar, os célebres mapas topográficos. Em Portugal são do mais fácil de adquirir (basta ir a uma boa livraria) e são dos mais completos que encontramos. Em outros países não será necessariamente assim, em alguns, temos por exemplo mapas em forma de brochura (a que chamo mapas temáticos), bastante completos, de parques nacionais ou zonas do globo, em que encontramos tudo o que queremos, os trilhos a percorrer, onde pernoitar, pontos de interesse a ver e muito mais.
A nível nacional, a boa e fiável cartografia militar, uma boa bússola e, porque não, um flyer da zona com os pontos de interesse, e já temos um meio de navegar o nosso 4x4 pelas estradas de terra e chegar onde queremos.
Este método foi o que os primeiros navegadores de todo o terreno usavam para se orientarem e explorarem os trilhos que hoje conhecemos.
Levava imenso tempo, muitas consultas ao mapa e decisões no local, para onde virar, ir até onde, por onde não passar... Pelo menos uma vez, nem que seja só à volta de casa, peguem, num mapa de papel e numa bússola e tentem ir até algum sitio, e já agora, e porque não, envolvam a família, é uma atividade excelente de ligação entre pessoas, a analise do mapa, a decisão, a descoberta do caminho, a procura e até os enganos, podem ser divertidos, dão um certo sentido aos metros ou até quilómetros percorridos, como que uma caça ao tesouro com um mapa da nossa infância. Os mais novos adoram este tipo de exercícios, pode ser uma atividade familiar excelente e saudável para um domingo em família e, no final, à chegada ao destino, por mais belo que seja, o tesouro é a experiência e todos os momentos que nos levam ao ponto de chegada.
Claro que com a evolução da tecnologia, e o aparecimento do GPS, tudo mudou. Os primeiros GPS nem mapas tinham, simplesmente davam a nossa posição e alguns, os mais avançados, os nomes das terras, a forma do país onde nos encontrávamos e o caminho que percorremos. Tudo isto, num ecrã iluminado e com umas formas geométricas em preto, quando apareceu foi uma revolução. Para além da bússola passámos a ter equipamentos na palma das nossas mãos que nos diziam onde estávamos e seria só consultar o mapa.
Sim, nestes primórdios o mapa ainda andava nos tablier de todos os 4x4 que víamos, mas este facto, de sabermos onde nos localizávamos por coordenadas nos mapas, veio dar o inicio do que conhecemos hoje como a navegação mais convencional.
Desde esse tempo, a evolução foi gigantesca, agora temos equipamentos com tudo: mapas, navegação por voz, indicações, e já nem precisa ser um equipamento dedicado como até então, basta ir ao nosso bolso instalar uma aplicação e temos tudo o que podemos querer.
Entramos então num era em que qualquer pessoa, com pouco ou nenhum conhecimento de mapas e orientação, consegue navegar uma rota que alguém já tenha feito e entramos também na partilha e difusão de experiências e sítios onde ir. No inicio, ainda em fóruns, quem não se lembra deles, e depois com o aparecimentos das redes sociais e do wikiloc, que também podemos classificar como uma rede social de trilhos com variados temas, a informação ficou assim acessível a todos e de forma facilitada, com todas as consequências boas e más que acarreta, na minha opinião, mais boas que más, a partilha saudável não faz mal a ninguém e só traz mais pessoas à nossa modalidade.
Dentro dos sistemas de localização para navegação em todo o terreno, temos duas grandes linhas de decisão: os GPS dedicados e os equipamentos multi funções como os Smartphone e os tablets. Sendo que, há que salientar que as marcas estão a enveredar por sistemas híbridos, como podemos constatar no Garmin Overlander por exemplo, é um GPS dedicado mas funciona no sistema Android dos nossos telefones e tablet´s, o que lhe dá uma versatilidade imensa.
Cada um tem as suas vantagens, os GPS dedicados, como os Garmin, Lowrance, Megellan e tantas outras marcas, são extremamente robustos, e têm um grau de resistência aos elementos muito elevado. São maquinas feitas para este efeito, todos têm os seu problemas, não são infalíveis, mas apresentam uma robustez bastante grande.
Falando dos mais tradicionais, a maior dificuldade que tenho reparado é na complexidade dos sistemas proprietários dos equipamentos. Ou seja, por exemplo, a Garmin tem o seu software próprio para usar nos seus GPS e que numa era mais digital, dos 5 minutos, em que se quer tudo rápido e automatizado, acaba por não ser bem assim. Nem falo do uso, esse para a navegação básica é simples, temos um bom mapa, um track, se for o caso, e já conseguimos percorrer com o nosso 4x4, mas os passos para colocar o track mais as funções, embora para a maior parte das pessoas que estão habituadas a estas andanças seja tudo simples, para quem quer fazer as coisas sem grandes complicações e sem uma grande curva de aprendizagem, encontra alguns entraves nestes sistemas, por mais excelentes que sejam.
Nos equipamentos multi funções, os tradicionais Smartphones e tablet, como têm um uso recorrente, acabam por aparentar ter um funcionamento mais simples, sendo que o mesmo não quer dizer que não tenham as suas dificuldades. Até há bem pouco tempo esta seria uma opção que muito poucos de nós colocaríamos para sistema de navegação.
Os primeiros sistemas eram bons como gps de estrada, ainda que muitas vezes extremamente falíveis, perdas de sinal de gps, uso só com Internet, e os próprios equipamentos não ofereciam a fiabilidade que procurávamos. Mas, e como em tudo, a evolução das tecnologias levou ao que conhecemos hoje e à difusão de maquinas bastante fiáveis, se não fosse assim, as grandes marcas de gps dedicados não criariam equipamentos com estes sistemas como é o exemplo do Garmin Overlander. A diferença maior, neste momento, está no sensor de receção de satélites e nos sensores que existem nestes equipamentos, como por exemplo a bússola, por causa deste fator, temos de ter muito cuidado com o que vamos adquirir e não olhar simplesmente ao valor da compra.
Qualquer Smartphone ou tablet hoje em dia tem gps. Certo! Mas nem todos têm o que precisamos, e a tecnologia que os equipara a um gps dedicado. É um facto que a maior parte das marcas está a fazer uma aposta de melhoria desta situação, mas ainda encontramos equipamentos com recetores de satélites fracos ou sem bússola, o que não vai servir para o objetivo que queremos. Existem, por outro lado, alguns que são excelentes, e com tudo o que importa para que possamos navegar com as melhores condições.
Este “problema” leva a uma temática um pouco mais técnica, que vou explicar, de um modo muito resumido. Todos os gps, sejam eles quais forem, têm de ter acesso a uma ou mais constelações de gps, quantas mais constelações mais robusto o sinal e mais preciso ele é, em que, e falando agora de satélites, precisamos de pelo menos três satélites para saber a nossa posição. A partir dai a precisão do local aumenta com o numero de satélites que o recetor apanha. Neste momento temos quatro constelações que os nossos equipamentos podem apanhar: GPS (Americana), GLONASS (Russa), GALILEO (Europeia) e BEIDOU (Chinesa). Quantos mais satélites mais forte o sinal, e menos propenso a perdas de sinal gps por obstáculos, como copas de árvores, edifícios, montanhas e etc, e,obviamente, também é menor o erro. Esta questão do celebre erro dos gps, também é importante, para entenderem bem, o erro do GPS, em raio, influencia a localização de onde o GPS diz que estamos. A titulo de exemplo, imaginem que poisam um compasso, desenhando uma circunferência e marcando o centro, o centro é o ponto ou sitio no “mundo real” a circunferência é o erro do GPS, ou seja, quando no equipamento, e trazendo para o todo terreno, marcamos por exemplo um local de interesse ou ate um ponto de campismo, esse ponto pode ser marcado em qualquer sitio dessa circunferência. Na prática não fica no mesmo sitio do “mundo real”. Um erro de gps aceitável, quando estamos parados, será de até 3 a 4 metros mais que isso já irá dar origem a erros muito grandes. Em andamento, ou seja, quando navegamos nos nossos equipamentos, o erro ou precisão deverá ter um desvio de até 5 a 10 metros que também é aceitável. Os gps convencionais trabalham dentro destes valores, claro que existem equipamentos muito mais precisos mas para o efeito que usamos não será de todo necessário.
Com esta parte mais “técnica“, explicada, ainda que de forma muito superficial, entendem a importância dos sensores que refiro, a qualidade do sinal, e da navegação, é influenciada diretamente por estes equipamentos. Ou seja, e voltando aos Smartphones e tablet´s, se estes não tiverem sensores de qualidade vão funcionar mal ou parar de funcionar, portanto terão de ter atenção a estes fatores todos na decisão do que usar.
Num gps dedicado não se coloca esta situação, pois depreende-se que já vêm equipados com os melhores sensores à data de fabrico e para o que estão construídos.
Nestes equipamentos Androide, temos ainda opção de escolha do programa que vamos usar na navegação, e aqui a opção já é muito por gosto pessoal e de qual se adaptam melhor, contudo, destacaria dois que na minha opinião parecem ser os mais completos e até os mais usuais, que é o Locusmap e o Oruxmap. Em comparação com os gps dedicados, também têm uma curva de aprendizagem, mas, bem menos exigente, e com a vantagem da usabilidade ser muito semelhante ao que utilizamos no dia dia, por estarem instalados num smartphone ou tablet. Não deixa também de ser necessário aprender a funcionar com eles, mas depois de configurados uma vez, ao inicio, para trabalharem sem Internet, e pela sua versatilidade a aceitarem muitos formatos de ficheiros, acaba por ser mais simples e em pouco tempo habituamo-nos a navegar e carregar track´s neles.
Então qual o melhor sistema a usar?
A resposta não é clara e não existe o melhor, existe o que mais se adequa ao uso que vamos dar. No entanto posso dar umas dicas para ajudar à decisão. Os mapas em papel é sempre bom levar e aprender a ler, até porque vai ser útil nos equipamentos que possam adquirir, navegar é também interpretar e ler mapas. Se tudo eletrónico falhar o bom e fiável mapa de papel não falha! Deixo como sugestão que vão adquirindo aos poucos os mapas das zonas por onde andam ou passem, façam uma encadernação impermeável e deixem o mapa no porta-luvas do vosso 4x4. Desta maneira mesmo, que esteja a chover, podem sempre consultar na rua e orientar-vos.
A questão então será entre um gps dedicado ou instalar as app no smartphone ou tablet.
Aqui depende muito do que se está disposto a pagar. Mas não olhando ao custo, centrava-me em duas questões, o tempo que se está disposto a despender a aprender a funcionar com os sistemas e a robustez do equipamento. Um gps dedicado leva mais tempo e tem uma curva de aprendizagem de uso maior, como carregar o track, carregar mapas, etc, e até como navegar, que tem as suas especificidades. Os gps estão mais adaptados a carregar o track, onde apresentam uma linha sem indicações e navegamos a olhar para o mapa e a linha que vamos tentando seguir. Os ecrãs geralmente são mais pequenos sendo o mais comum de 4” a 6”. No entanto para quem viaja com regularidade para latitudes mais quentes é o mais fiável, uma vez que mantêm um bom desempenho mesmo quando expostos a temperaturas mais elevadas.
Já os smartphones, embora funcionem do mesmo modo que os tablets, para passeios pontuais funcionam bem, são, para todos os efeitos, um meio de comunicação que se quer sempre disponível a receber chamadas e com o ecrã reduzido. Eu usaria só em caso de passeios pontuais e em recurso se outro equipamento falhar.
Os tablets, bem configurados para viagens, para um uso mais nacional, e com algum resguardo de verão do sol direto, são a opção que escolheria para viagens nacionais e europeias. Sem nunca esquecer que os tablets comuns sofrem muito de sobreaquecimento, em destinos com latitudes mais quentes, o que leva a que deixem de funcionar e fiquem sem navegação gps.
Estes sistemas androide têm a vantagem de bastar fazer sua configuração apenas uma vez e o seu uso ser simples. Para quem não quer ter uma curva de aprendizagem muito grande, e gosta de ter indicações por voz e visuais (tipo road book), como confesso que gosto, esta será a opção a seguir, com as condicionantes que já referi, por exemplo se o intuito for fazer África, levar com a cautela de não colocar no vidro com sol direto. No entanto existem marcas que já têm estes equipamentos a cumprir com normas que os fazem resistentes a estas temperaturas mais elevadas, mas os valores são equiparáveis a um gps dedicado, sendo que os sistemas Androide são mais versáteis.
Temos ainda os sistemas híbridos, os gps dedicados com sistema androide e este sendo o “melhor de dois mundos”, ou seja, fazem tudo. Podemos instalar as aplicações androide de navegação que gostamos, ou usar os sistemas da marca, com a vantagem da robustez de um gps dedicado, e seria esta a minha opção para quem quer fazer viagens muito longas e internacionais, passando por vários tipos de climas, sendo que para este efeito, um tablet com a mesma fiabilidade e robustez dos gps dedicados é também uma boa opção. Existem vários modelos com estas normas que funcionam até com água, pó, anti queda e temperaturas acima dos 50º.
Sei que deixei um dos sistemas um pouco de parte, o IOS, em que na realidade só existem duas opções de programas viáveis neste momento, o GaiaGPS e o OSMand, sendo um sistema fechado sobre ele próprio e sem grandes soluções de navegação, tendo até alguns modelos de Ipad que o posicionamento só funciona com a Internet ligada, que não me parece de todo pratico, e por esse motivo acabo por deixar de parte em detrimento dos sistemas que usam Androide.
Como podem ver a escolha não é simples e só sabendo o que vão fazer na vossa atividade de todo o terreno e o objetivo é que poderão saber o que mais se adapta ao pretendido, e também, porque não, o gosto pessoal de cada um de vós. Aconselho a experimentarem os vários sistemas, de certeza que têm um amigo com viatura 4x4 que usa um destes e vos pode mostrar um pouco de como se usa. Diria apenas para não se deixarem influenciar pelo que dizem que é melhor, porque o que é melhor para mim pode não ser para outra pessoa. Façam uma escolha informada, testem, usem e pratiquem, nem que seja à volta de casa, para perceberem como funciona, assim encontram as dificuldades com tempo para as entender, para então depois poderem ir de viagem mais relaxados e a saber com o que contar a nível de funcionalidades e uso do vosso equipamento.
Artigo in: Revista Overland Portugal nº12
Escrito por: Jorge Melo (JM4x4)
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